Pressionada pela
Copa, Vila da Paz está sem água e luz desde abril
Lucas Pimenta
Fotos: Guilherme Kastner
(Matéria publicada no Jornal Metro News em 30/07/12)
Com a chegada da Copa do Mundo de 2014 a Itaquera, na Zona
Leste, os moradores da Comunidade Vila da Paz, vizinha do estádio que sediará
os jogos, vivem o medo de deixar o local onde moram há 20 anos e se sentem
pressionados a deixar a área.
Segundo os moradores, durante mais de dez anos, a
Eletropaulo disponibilizava extra oficialmente, um ramal condutor de energia
elétrica para que toda a comunidade usasse o serviço informalmente, mas desde
abril, a opção foi cortada. O mesmo aconteceu com a água, que chegava até a
comunidade e também foi cortada pela Sabesp.
Desde então, parte das 300 famílias do local está sem água e
sem energia. Os que moram mais próximos das vias até conseguem puxar
ilegalmente de outros postes e estão distribuindo para barracos vizinhos, mas
com o sobrecarregamento da rede, temem o risco de incêndio e vivem quedas
constantes de energia. Quem não tem acesso, vem improvisando com velas, como um
homem não identificado, que há uma semana, morreu carbonizado, após dormir com
uma vela acesa, queimando quatro casas.
No dia 2 de julho, moradores se reuniram com o Ministério
Público, que deu o prazo de 15 dias para que a ligação fosse refeita, mas a
recomendação não foi cumprida. “Eles falam que vai passar aqui, o Parque Linear
Rio Verde, mas ninguém veio apresentar o projeto, falar quando vamos sair ou
para onde vamos. Depois dessas conversas informais, cortaram água e luz e
agora, vivemos com medo, pois moramos em uma bomba relógio”, disse o
comerciante Pedro Furtado, 56 anos, que mora há 12 anos na comunidade. Ele diz
que desde 1998, a
comunidade pede ligação individual de energia a Eletropaulo e o pedido foi
negado. “Queremos regularizar e eles nunca deixaram. Agora, dizem que não vão
fazer, porque vamos sair, mas isso pode acontecer até 2014. Não podemos ficar
dois anos dessa forma”, criticou.
Pressão do Poder
Público e medo de ficar sem moradia
Para os moradores da Comunidade Vila da Paz, em Itaquera, os
cortes das ligações informais de água e eletricidade, desde abril, faz parte de
uma pressão do Poder Público para que eles deixem a área espontaneamente.
Segundo o comerciante Cícero Jailson da Silva, 38 anos, que
está há 17 anos no local, além da iminência de deixar o local, falta
informação, principalmente, em relação a futuras moradias. “Se for sair,
preciso saber quando e como. Não adianta falar em auxílio aluguel, pois isso dá
muitos problemas e o valor não dá para nada. Precisamos saber para onde iremos.
Queremos sair com as chaves na mão”, criticou Silva.
De acordo com o ativista do movimento Nossa Itaquera, Valter
de Almeida Costa, 49 anos, apesar dos cortes de serviços básicos, o que vem
acontecendo na Vila da Paz é culpa da Prefeitura. “Depois de algum tempo de
pressão, a Eletropaulo dialogou com a comunidade e disse ter o interesse em
fazer a ligação, mas segundo eles, é preciso autorização da Prefeitura, mas na
última reunião no MP, o subprefeito de Itaquera sequer participou. A Prefeitura
quer que os moradores saiam, mas não dão condições e nem informações. Querem
vencer pelo cansaço”, afirmou o ativista.
Eletropaulo nega pressão
para cortar energia
Questionada sobre a acusação dos moradores da Comunidade da
Paz, a Eletropaulo negou que o corte de energia feito em Abril no local, tenha
relação com a saída dos moradores e com a Copa do Mundo.
Segundo a empresa, ela foi notificada pela Polícia Militar
para suspender a energia no local, em virtude das condições irregulares da
rede. Segundo a Eletropaulo, a instalação na região é precária e não atende as
condições mínimas de segurança, oferecendo risco. “Nunca houve nenhuma ligação
realizada pela concessionária na área da comunidade”, disse em nota, negando a
informação dos moradores.
Segundo a concessionária, ela não pode realizar ligações de energia
em áreas de ocupação irregular com impactos ambientais ou em áreas de risco, como
a Vila da Paz, sem a aprovação dos órgãos públicos. “A concessionária ressalta
que só pode instalar ligações na área, após regularização da região por parte
da subprefeitura de Itaquera.”
Foto mostra fios cortados onde, segundo os moradores, havia ramal condutor, usado extra oficialmente, retirado pela Eletropaulo em Abril
Já a Sabesp informou
que não há rede de água oficial na Comunidade Vila da Paz, já que se trata de
área de ocupação não oficializada, onde a estatal não pode atuar, sem a devida
autorização dos órgãos competentes. Com isso, segundo a Sabesp, se tem alguma
ligação de água, ela é irregular, mas mesmo assim, a empresa diz que não
realizou nenhuma intervenção de corte no local.
Habitação diz que
retirada de famílias não tem data definida
Questionada sobre o futuro das famílias, a Secretaria
Municipal de Habitação (Sehab) informou que só realiza realocação em áreas em
que fará obras de urbanização.
Para a favela da Paz, segundo a pasta, estão previstas
intervenções de urbanização pelo Plano Municipal de Habitação (PMH), mas não há
nada programado para o momento, pois os projetos para a região estão em fase
preliminar, de estudos. “A realocação das famílias ainda não está definida”,
informou em nota.
A Prefeitura foi ainda questionada sobre qual obra passaria
pelo local e sobre a acusação dos moradores em relação a pressão para a
retirada dos moradores, mas até o fechamento desta edição, não se posicionou em
relação as suposições.
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