Por
uma EFLCH unida e no bairro Pimentas.
Prof. Dr. Janes Jorge - Departamento de
História - 27/07/2012
Neste ano de 2012,
professores, alunos e técnicos administrativos tem discutido intensamente os graves
problemas por que passa a EFLCH. Inúmeros fatores são apontados como causadores
do que vem sendo chamado de “crise da
EFLCH”, embora o próprio entendimento do que seja tal crise varie bastante na comunidade
universitária, bem como a melhor forma de superá-la. O objetivo deste texto é
discutir em que medida a localização do campus é fator agravante ou provocador
dos problemas porque passa a EFLCH. A tese aqui defendida é de que a chamada
crise da EFLCH não decorre de fatores geográficos – localização e características
do entorno - e que sua presença no bairro Pimentas e na cidade de Guarulhos é
fator dedesenvolvimento
social, político e urbano da Região Metropolitana de São Paulo, sem comprometer
sua excelência acadêmica.
É preciso ressaltar
que ao se decidir pela localização do campus da EFLCH não se deve ter no horizonte
perspectivas e interesses de curto prazo, embora eles sejam os que parecem ter
mais sentido do ponto de vista individual. Houve tempo que o belo campus
Butantã da USP era local isolado e distante para muitos, o mesmo ocorrendo com
o campus da Unicamp. Por outro lado, mudanças de endereço de campi não são
estranhos à vida universitária, como a própria história da FFLCH/USP indica,
embora a mudança de endereço Faculdade de Direito da USP, do Largo de São
Francisco, não tenha prosperado. Uma correlação mecânica entre a chamada crise
da EFLCH e o bairro Pimentas transfere a responsabilidade por tal crise para
uma agente exterior ao mundo universitário. Nesse caso, o fator provocador não
mais decorre da estrutura universitária e da ineficiência com que professores e
alunos atuam dentro dela ou de sua incapacidade em transformá-la, mas é
transferida, mesmo que involuntariamente, para o bairro popular.
É preciso evitar a
ilusão de que bastaria mudar o campus do lugar para que os problemas da EFLCH acabassem,
pois isso poderia gerar nova frustação caso eles se repetirem alhures. O mais
provável é que a mudança do local do campus somente mude o endereço de grande
parte problemas se eles não forem discutidos em sua complexidade e enfrentados coletivamente.
2. Os problemas de
licitação e a precariedade do campus, as greves de alunos e professores, as
dificuldades de diálogo na EFLCH e na UNIFESP, não são
problemas decorrentes
da localização do campus. As dificuldades de transporte sim. Mas, nesse caso,
deve- se deixar o local ou contribuir para tais dificuldades sejam superadas em
benefícios da comunidade universitária e da vizinhança, mesmo que tendo como
horizonte um período de tempo mais longo?
É compreensível que
professores e estudantes que enfrentam, faz anos, todo tipo de dificuldade estejam
entre desanimados e furiosos, ou mesmo saturados de tantos debates, ainda mais
depois de um semestre tão conflituoso, embora também de conquistas, como, por
exemplo, as novas áreas para o campus.
Mas, começar do zero,
em outro local, sabe-se lá onde, não parece a melhor saída.
A EFLCH e a
democratização da Região Metropolitana de São Paulo.
Um bom argumento,
talvez central, para que a EFLCH permaneça no bairro Pimentas decorre da necessidade
de construir uma metrópole mais igualitária, em todos os sentidos. Como é
necessário expandir o ensino superior público na Região Metropolitana de São
Paulo, 20 milhões de pessoas, cerca de 10% da população brasileira, é
recomendável, do ponto de vista da justiça social e do desenvolvimento urbano,
que as universidades ocupem lugares outrora preteridos da metrópole, como os
seus extremos. Em geral, urbanistas e geógrafos concordam que é preciso criar,
"novas centralidades", algo benéfico para toda a metrópole, inclusive
para suas áreas privilegiadas, que hoje também enfrentam graves problemas de mobilidade
urbana e segurança. Não é mais possível desenvolver a Região Metropolitana de
São Paulo concentrando ações e recursos em regiões historicamente beneficiadas
pelo poder público, pois ocupadas preferencialmente por segmentos de classe
média alta da população e por ricos. É preciso conectar a periferia a
periferia.
Seria irônico que a
universidade pública, que faz tal diagnóstico em inúmeros estudos, aja no sentido
contrário ao que recomenda para a sociedade. Quanto à região central da cidade
de São Paulo, talvez sua melhor vocação, hoje, seja para moradia. A expansão da
Unifesp na região metropolitana de São Paulo e cidades próximas, responde a
essa necessidade de democratização da metrópole. Ao desenvolver nessas cidades
uma estrutura universitária pública, amplia a consciência crítica e cidadã. Há
professores da EFLCH em conselhos municipais de Guarulhos e participando de
outras iniciativas municipais. Essa participação é tensa, pois interfere diretamente
em conflitos locais, mas, sem dúvida, é transformadora. Guarulhos é a segunda
cidade mais importante da Região Metropolitana de São Paulo, uma das mais
importantes do Brasil. A EFLCH quando funcionar plenamente poderá polarizar
toda a região Leste e Norte da Região Metropolitana, parte do Vale do Paraíba.
São milhões de pessoas, dezenas de cidades. Seguramente não é o campus ideal
para o aluno ou professor que mora na Zona Sul e Oeste de São Paulo, pela
precariedade do transporte público, mas a situação é melhor para o paulistano
que mora na Zona Leste e Norte, ou em Itaquaquecetuba, por exemplo.
3. Por fim, cabe
lembrar que na Zona Leste e Norte de São Paulo, e em parte de Guarulhos, há
bairros de classe média alta, futuramente, poderão ser moradia de professores e
mesmo de alunos.
A EFLCH e o bairro
Pimentas.
Ao longo do século
XXI o bairro Pimentas mudou, e, segundo seus moradores, para melhor. Sem dúvida
foi a nova conjuntura econômica nacional e os investimentos municipais que
alteraram o bairro. O campus não causou, por sí só, a valorização imobiliária
de que muitas vezes foi acusado. Haveria valorização imobiliária de qualquer
jeito. Mas a presença do campus no bairro foi benéfica. Escolas da região recebem
alunos do campus e professores da rede pública vão para a EFLCH. Docentes da
Unifesp se engajam em atividades de pesquisa e extensão, que, embora tímidas,
tendem a aumentar. Mais uma vez, aqui, tendo-se o curso de história como
referência, é possível afirmar que os resultados são promissores.
Evidentemente isso
poderia ser feito mesmo que a EFLCH estivesse em outra região da metrópole. Mas
é inegável que é muito diferente ir para um bairro popular fazer atividades de
extensão e estar localizado em um bairro popular. Nesse caso, o compromisso com
a realidade local se impõe de forma inescapável, pois a comunidade
universitária trata de seu próprio destino.
O campus também traz
recursos para o bairro: atrai investimentos e atenção do poder público (federal,
estadual e municipal), cria empregos para moradores da região, ajuda a
movimentar o comércio, o aluguel de residências, etc. No longo prazo, pode
criar dinâmicas que ampliem as opções culturais e as perspectivas da população
local, tornando o bairro mais heterogêneo e diversificado. Salvo engano, quando
o quadro de professores estiver completo serão cerca de 250 professores,
centenas de funcionários e milhares de alunos vindos de muitos lugares
diferentes. Para muito será a primeira vez que estarão em um bairro de origem
popular.
A EFLCH e o
conhecimento
De nada adiantaria a
EFLCH ser benéfica para o desenvolvimento de São Paulo e para o bairro Pimentas
se não for capaz de produzir conhecimento de qualidade. Tendo como parâmetro a
área de história – faltam dados e conhecimento para analisar as outras áreas –
isso vem ocorrendo plenamente.
O curso de História
se não é o melhor e o mais difícil curso de História de São Paulo, se iguala ao
melhor. E há alunos concluindo o curso e disputando com êxito o mercado de
trabalho e a pós-graduação é 4 hoje realidade e deve se expandir de forma
acelerada. O departamento também tem realizado encontros
acadêmicos
periodicamente, sendo que no primeiro semestre, apesar de todas as
dificuldades, houve um encontro internacional exitoso. Professores e alunos têm
seus projetos aprovados pela FAPESP e convênios com instituições importantes,
como o Arquivo Público do Estado de São Paulo e, enquanto houve aulas, grupos
de pesquisa se reuniam periodicamente. Em julho, estudantes de História
acolheram no campus e no CEU o Encontro Nacional dos Estudantes de História,
que contou com cerca de 450 participantes, a maioria de fora de São Paulo.
A questão da
distância e a evasão dos alunos.
Alguns apontam os
índices de evasão dos alunos da EFLCH como prova cabal de que o campus é inviável
no bairro Pimentas que seria caracterizado pelo “isolamento”. Evidentemente, a
precariedade do transporte público e, em especial, a ausência de uma estação de
metro no bairro Pimentas causa grandes prejuízos à estudantes, técnicos
administrativos e professores, bem como à população local. Contudo, não é possível
correlacionar tão imediatamente um suposto “isolamento” do bairro e as taxas de
evasão pois há
outros problemas
afetando a vida dos estudantes.
Uma possibilidade,
talvez a mais provável, é que os alunos fiquem desanimados não pelo fato de irem
para um campus, de fato, para muitos deles, distante, mas sim por chegar a esse
campus e não encontrar condições adequadas de estudo e convivência acadêmica.
Portanto, somente se a EFLCH estivesse plenamente instalada se poderia fazer
essa correlação entre evasão e distância. Por outro lado o simples arrolamento
estatístico da evasão não explica as suas causas demandando, antes disso,
estudos qualitativos, pois a evasão pode decorrer de inúmeros fatores, alguns
até mesmo positivos, como maiores possibilidades de escolha por parte do
estudantes.
Ainda que seja
deficiência gravíssima e de solução complexa, alunos, professores e técnicos administrativos
não são passivos diante da precariedade da rede de transportes públicos e
procuram inventar soluções, como os fretamentos e caronas. Nem sempre são as
ideais, e a luta pela instalação de uma estação de metro junto ao campus é um
sonho possível que devia começar a ser construído imediatamente, inclusive porque
poderia congregar a comunidade universitária e a população do bairro e
arredores. Embora promissor, é preciso aguardar para avaliar a qualidade do
sistema Orca recém-conquistado. É interessante observar como o sistema de
caronas entre professores, que funciona relativamente bem, não deixa de estreitar
os encontros e conversas com os colegas, indicando que o enfrentamento conjunto
das dificuldades pode ter efeito agregador e construtivo.
5. Um novo campus: novas promessas? Novos
problemas?
É possível que
algumas pessoas que pensam na saída do bairro Pimentas como solução para os problemas
da EFLCH idealizem o novo local que seria escolhido. A situação começaria a
mudar de figura quando o novo local fosse indicado. Seria o momento em que os
problemas do novo local começariam a
aparecer. Por
exemplo, será que ele seria tão mais perto do que o atual local para estudantes
e professores? E para os técnicos-administrativos? Haveria verba garantida para
essa operação? O governo federal apoiaria a medida?
E o governo municipal da nova cidade
escolhida, apoiaria? Mesmo que fossem de partidos políticos diferentes às
vésperas de uma eleição presidencial? E a UNIFESP, aceitaria uma EFLCH na
cidade de São Paulo?
É difícil acreditar
que se estrutura universitária não foi capaz de oferecer um prédio novo para a EFLCH
possa, rapidamente, oferecer todo um campus novo, sem problemas de
infraestrutura e bem localizado. Não corre-se o risco de iniciar um novo ciclo
de reivindicações do zero, tendo que refazer todas as relações que, bem ou mal,
já existem em Guarulhos - desde o cadastramento de escolas para a licenciatura
até contatos com o poder municipal?
E, mais grave ainda,
não se corre o risco de perder tudo o que foi conquistado no primeiro semestre,
apesar de tudo, sem qualquer garantia de se ter algo melhor em outro lugar?
Parece um risco alto demais.
Por uma EFLCH
unida no campus de Guarulhos
Diante do que foi
dito acima, acredita-se que a EFLCH, que já tem uma bela história de lutas, conquistas
e realizações em Guarulhos, permaneça unida no campus atual, preparando-se para
sua expansão com novos cursos e alunos, encontrando seu lugar na UNIFESP, na
metrópole e no universo do conhecimento.
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