A BARBEARIA DA VILA SANTANA, EM ITAQUERA, NÃO ABRIU
SUA PORTA NA MANHÃ DO ÚLTIMO SÁBADO.
Estranhei quando vi, naquela hora, a barbearia do Sr.
Luís, ainda fechada. Já eram quase oito horas da manhã e naquele horário o
velho barbeiro de Itaquera, na Rua Francisco Rodrigues Seckler, atrás da
UNICASTELO, já costumava aguardar seus clientes. Era sábado e minha esperança
era chegar cedo e não pegar muita fila. Mas a porta estava trancada. Me veio
mesmo o pressentimento, mas teimei para não admitir aquilo que parecia
evidente.
Afinal, neste mesmo ano o barbeiro em que corto o que me resta de
cabelo, faz muitos anos, tinha passado mal numa das ocasiões em que me atendia.
Teve que interromper o corte. Saiu. Foi à farmácia ou algum outro lugar e
fiquei no aguardo. Quando retornou, não parecia muito melhor, mas insistiu em
concluir o trabalho. Me ofereci para levá-lo num hospital, mas, orgulhoso,
recusou. Isto fazia alguns meses.
Neste sábado, a porta fechada dava pistas do que
podia ter acontecido, mas preferi não alimentar este pensamento. Fui fazer
outras coisas. Até passei numa feira em bairro vizinho. Abasteci o automóvel.
Retornei para a Vila Santana e o salão ainda permanecia fechado.
A confirmação chegou no dia seguinte, quando o
parceiro do Sr. Luís, na barbearia, me chamou, quando passava na calçada, para
dar a notícia. Contou as circunstâncias, que todos lamentamos. Outros clientes
foram se juntando para ouvir sobre o ocorrido, mas a tristeza era geral.
O senhor Luís era um profissional até atípico. Mesmo de
tradição no ramo, tendo aprendido o ofício com seu pai e pessoa conversadora,
contador de histórias de pescarias, não era exatamente o rei da sociabilidade.
Não fazia nenhuma questão de agradar, ou parecer simpático. Era educado, mas
tinha pavio curto. Eu apreciava sua despreocupação em agradar os fregueses mais
chatos. Eu mesmo não era de muita conversa. Ouvia as histórias que contava de
Itaquera antiga. Tinha uma foto da Avenida Campanela, onde morava, praticamente
irreconhecível como estrada de terra. Era um bom homem. Falava de sítios,
pescarias, “causos” do bairro. Coisas simples. Eu escutava, quase sempre em
silêncio. Às vezes até cochilava na cadeira. Nem por isto tive cortada qualquer
lasca de minha orelha. Era um bom profissional. Itaquera perde, com sua
partida, um seu lado mais provinciano, quase de interior. Boas pescarias, Sr.
Luís.
Nenhum comentário:
Postar um comentário