A OCUPAÇÃO CULTURAL
DO COLETIVO DOLORES E O FESTIVAL TEATRO MUTIRÃO
Uma das vantagens de meu trabalho como Supervisor
Escolar é que entre uma escola e outra que visito, como parte de minhas funções profissionais, vejo,
no caminho, o que acontece nas ruas. Meu
posto de trabalho, a Diretoria Regional de Educação de Itaquera, fica perto de
Artur Alvin. E como a maior parte das escolas que supervisiono fica localizada
no Conjunto José Bonifácio, o caminho
que mais utilizo para chegar nestas escolas é o da Avenida Radial Leste, que
pego na altura da Estação de Metrô Artur Alvin. É é lá que desde o dia 1 de
setembro tenho acompanhado, nestas passagens com meu carro, a transformação de
uma praça em território de Ocupação
Cultural,. Esta Ocupação está sendo realizada pelo Coletivo Dolores. Integra
este Coletivo, o Grupo de Teatro “Dolores Boca Aberta Mecatrônica de Artes”,
que organizou, no início do mês de agosto, passado, outra temporada da “Saga do
Menino Diamante”, em espaço localizado perto da Estação Patriarca, também na
Zona Leste.
E qualquer um que tenha assistido uma das encenações
desta peça do “Dolores” não fica indiferente à ação de seus jovens atores. O
processo da construção da “Saga”, o resultado, toda a energia das apresentações
que atrai centenas de outros jovens da cidade toda, certamente não ficaria nos
limites institucionais conhecidos. Para os que estão acostumados com a rebeldia
consentida e subvencionada dos grupos que vivem dos projetos oficiais e seus
minguados recursos, poderia causar surpresa uma ação, a da Ocupação, cuja
radicalidade melhor corresponde às
análises presentes em suas peças. Mas teatro é teatro. E trabalha com símbolos.
A escolha do lugar da Ocupação está carregada de símbolos, alguns bem
explorados na “Saga do Menino Diamante”. Neste sentido, a proximidade do
terreno em que está sendo construído o futuro Estádio do Corinthians, para a
Abertura da Copa de 2014, traz muitos elementos para comparações de projetos,
políticos, sociais e culturais, bastante distintos.
Bom exemplo de polissemia, por dar margem a múltiplos
significados, o estádio em construção tanto simboliza o poder do grande Capital
e seus vários recursos midiáticos, como também representa a paixão de milhões
de torcedores descapitalizados. E além de tudo o que significa os símbolos, a
história e, em especial, o cotidiano da maior parte desta torcida, a própria
construção, em si, constitui um poderoso
signo do trabalho humano. Aquelas centenas de operários, num trabalho ininterrupto, impressionam. Os
gigantescos guindastes e os tratores abrindo ruas, da noite para o dia. É um
espetáculo que fascina. Em qualquer hora
do dia é possível encontrar curiosos com câmaras amadoras e celulares
registrando cada fase da construção.
Pois bem, foi ali, perto do futuro grande estádio,
que foram colocadas as tendas na Praça ocupada pelo grupo “Dolores”, de Teatro.
E como são maravilhosamente atrevidos estes jovens com suas tendas. Passei hoje
de carro, quando ia para uma visita de rotina a uma turma de Mova (Movimento de
Alfabetização de Adultos), em frente ao acampamento do “Dolores”. O sol já estava forte e os jovens atores do
“Dolores” estavam lá, em círculo, numa
reunião pública, na praça. Não podia, mas tive muita vontade de parar e
confraternizar com aquela garotada. Emocionante aquela ocupação. Aqueles jovens
sabem muito bem o que estão fazendo e o que representa aquela ação. Estão
fazendo história.
Se no espetáculo da “Saga do Menino Diamante – Uma
Ópera Periférica”, temos a reflexão sobre vários temas de nossa história,
remota e recente, com destaque para o fenômeno atual, e recorrente, da expulsão
das comunidades pobres pelas grandes obras viárias (e interesses dos
especuladores) , agora, neste pedaço da Zona Leste, várias comunidades estão
ameaçadas de “desaparecer”. As questões trazidas pelo “Dolores” são, portanto,
bem atuais. Estão bem sintonizadas quanto ao tempo e quanto ao espaço em que
atuam. Como diz o refrão de uma das músicas tocadas na peça, “Salve, Zona
Leste”.
Informação Contida no
site do Dolores:
“O Coletivo Dolores
está propondo uma ocupação político – artística numa praça ao lado do metrô
Artur Alvin (linha vermelha). Serão 15 dias de ocupação e atividades de
formação, apresentações de peças teatrais e apresentações musicais e um
trabalho para montar um monumento na praça. Para isso conta com a participação
de diversos grupos parceiros que preencherão de bons espetáculos nossas tardes
e noite começando dia 1 e terminando no dia 15 de setembro.
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