TINHA UM MENINO QUE SAÍA
Abri o livro mais ou menos ao meio. Não. Um pouco mais da
metade. Na página 199, e li o primeiro poema que iniciado nesta página de
Folhas de Relva. Tinha adquirido este exemplar da obra de Walt Whitman, pelas
mãos do livreiro Daniel, num Sarau. O Sarau do Caos, no Galpão Stúdio. Agora,
ao ler este poema, não tenho como não agradecer o livreiro e as demais pessoas
deste espaço. Já era tarde na hora em que iniciei a conversa que resultou na
compra. Nesta primeira edição do ano, num domingo, a casa fecharia mais cedo.
Mas o ambiente estava especialmente encantador. Este livro que folheio agora,
começando por este poema, também traz isto, o encantamento. No caso, o
encantamento do menino com as coisas do mundo, os lilases, a relva, o trevo da
tesourinha....
Pois é, fiquem com o início deste poema. Somente o começo.
Se também gostarem, façam a busca:
Walt Whitman (Folhas de Relva. Trad. De Rodrigo Garcia Lopes)
Tinha
um menino que saía todo dia,
E a
primeira coisa que ele olhava e recebia com surpresa ou pena ou amor ou
Medo, naquela coisa ele virava,
E aquela
coisa virava parte dele o dia todo ou parte do dia...ou por muitos anos ou
Longos ciclos de anos.
Os
primeiros lilases viraram parte dele,
E a relva,
e as ipomeias brancas e vermelhas, e o trevo branco e vermelho, e o pio da
Tesourinha,
E os cordeiros
de março, e a ninhada rosa tênue da porca, e o potro, e o bezerro, e o
Filhote barulhento no curral ou na lama do açude...e os peixes suspensos
lá
Embaixo de um jeito curioso...e o líquido bonito e esquisito...e os
aguapés
Com suas cabeças chatas e graciosas...tudo virava parte dele.
E os brotos
de abril e maio viravam parte dele...brotos de inverno, do milho
Amarelo-claro,
das raízes comestíveis do jardim,
E as
macieiras carregadas de flores, e de frutas depois... os morangos silvestres...